07/07/2009

"DITABRANDA"

Acredite quem quiser: a “Folha de S. Paulo” está à direita da “Veja”!

A grande imprensa é uma caixinha de surpresas. O cidadão que folhear neste domingo a Folha de S. Paulo e a última Veja, ficará em dúvida sobre qual é qual. Talvez até se belisque, para ter certeza de não estar sofrendo alucinações.

De um lado a Veja, na matéria Memórias do Extermínio, não só admite tranquilamente a veracidade das confissões do Major Curió, segundo quem as Forças Armadas executaram a sangue-frio 41 guerrilheiros do Araguaia depois de prendê-los com vida e manterem-nos presos por variáveis períodos, como até acrescenta detalhes buscados em outras fontes, como se pode constatar nestes trechos:

“Sabe-se agora que o Exército perseguiu e executou os guerrilheiros, mesmo quando eles já não ofereciam mais qualquer perigo aos militares.

“VEJA entrevistou um militar que integrou a equipe de Curió – e participou da execução de ao menos três guerrilheiros. Esse experiente militar (…) aceitou contar em detalhes o que fez, contanto que seu nome permanecesse no anonimato.

“‘A ordem era não deixar ninguém sair de lá vivo’, rememora o militar. ‘Era uma missão e cumprimos o que foi determinado.’ Recorrendo a uma identidade falsa, o militar (…) se infiltrou junto à população civil para obter informações sobre a guerrilha. Tempos depois, ele passou a trabalhar na ‘Casa Azul’, (…) onde o Exército mantinha presos e torturava os guerrilheiros capturados. A ordem, lembra o militar, era extrair o máximo de informações dos presos, (…) quase sempre, por meio de torturas. Depois, assassiná-los. Tudo feito clandestinamente.

“O militar entrevistado foi dos algozes do cearense Antônio Teodoro de Castro, estudante universitário de 27 anos conhecido como ‘Raul’. Ele conta que presenciou o interrogatório do estudante: ‘Ele tinha fome, vestia farrapos e estava amarelo, parecia ter malária’ (…). Mesmo desarmado, mesmo famélico e doente, mesmo depois de contar tudo que os oficiais queriam, Raul não foi poupado. Logo chegou a ordem: eles deveriam levá-lo para fazer um ‘reconhecimento’(…), senha para matar. Curió e seus homens, entre eles o militar entrevistado por VEJA, embarcaram Raul e outro guerrilheiro, o estudante gaúcho Cilon da Cunha Brun (…), num helicóptero da Força Aérea…

“…até as terras da fazenda de um colaborador. (…) Após uma longa caminhada, o grupo parou para descansar. Todos se sentaram. Instantes depois, Curió disse aos colegas: ‘É agora!’ Levantou-se num átimo, mirou seu fuzil Parafal na cabeça de Raul e disparou. O corpo do estudante caiu imediatamente sem vida. Os outros oficiais levantaram-se e descarregaram as armas nos dois. ‘Parecia pelotão de fuzilamento’, lembra o militar. Eles tentaram cavar uma vala para enterrar os guerrilheiros, sem sucesso. Resolveram cobrir o local com galhos de árvores – e seguiram caminho. Alguns dias depois, o fazendeiro esteve com os militares e reclamou dos cadáveres. ‘Os corpos começaram a feder. Os animais já tinham comido quase tudo. Tive que enterrar os restos’, disse.

“Aconteceram ainda outras atrocidades. O fotógrafo baiano José Lima Piauhy Dourado, o ‘Ivo’, tinha 27 anos quando foi capturado pelos militares. Ele fora ferido na clavícula (…). Transportado para a Casa Azul, Ivo passou por uma longa sessão de torturas. Apanhou e conheceu os horrores do pau de arara (…). Conta o militar: ‘O cara só gemia’. Gemia, mas, segundo a testemunha, não entregou ninguém. O depoimento do militar é perturbador: ‘Ele estava agonizando, pendurado no pau de arara. Alguém se aproximou e derramou um copo-d’água em sua boca. Ele morreu afogado, estrebuchando’.

“O Exército também pagava pela cabeça dos guerrilheiros – e não era metaforicamente. ‘Tinha que trazer a cabeça mesmo, para provar que tinha matado’, lembra o militar. Cada cabeça rendia 5.000 cruzeiros ao matador. Em valores corrigidos, cerca de 11.000 reais. ‘Vi pelo menos umas três’, conta. Continua......

Texto Conciência net...

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