27/08/2009

Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia


Pedagogia da Autonomia .

Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível
Um dos saberes primeiros, indispensáveis a quem, chegando a favelas marcadas pela traição a nosso direito de ser, pretende que sua presença se vá tornando convivência, que seu estar no contexto vá virando estar com ele, é o saber do futuro como problema e não como inexorabilidade. É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências.No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar mas para mudar. Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar à ela. É por isso também que não me parece possível nem aceitável a posição ingênua ou, pior astutamente neutra de quem estuda... Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra, como se misteriosamente, de repente, nada tivesse que ver com o mundo.
Em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra que estudo? Contra quem estudo?
As resistências - a orgânica e/ou a cultural - são manhas necessárias à sobrevivência física e cultural dos oprimidos. Que tenhamos na resistência, na compreensão do futuro como problema (não como fatalidade) e na vocação para o ser mais, fundamentos para a nossa rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas que nos destroem o ser.
A rebeldia enquanto denúncia precisa se alongar até uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamentalmente anunciadora. Denúncia da situação desumanizante e anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho.
O êxito está centralmente na certeza de que é possível mudar, de que é preciso mudar, de que preservar situações concretas de miséria é uma imoralidade.
Não posso proibir que os oprimidos com quem trabalho numa favela votem em candidatos reacionários, mas tenho o dever de adverti-los do erro que cometem, da contradição em que se emaranham.
Partindo de que a experiência da miséria é uma violência e não a expressão da preguiça popular ou fruto da mestiçagem ou da vontade punitiva de Deus, violência contra que devemos lutar, tenho, enquanto educador, de me ir tornando cada vez mais competente sem o que a luta perderá eficácia.

Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia.

Fabrício Oliveira.....

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